Cartografia Escolar

A cartografia da sala de aula

Faça um mapa topográfico

Geografia – faça um mapa topográfico em sala de aula.

Faça uma maquete com o mapa topográfico que você criou.

Fazer um mapa topográfico com nossos alunos é um desafio. Obviamente faremos algo simples, que com o tempo podemos ir completando. Antes de dar prosseguimento, veja uma página sobre isso na internet:

http://www.education.com/activity/article/Make_Topographic_Map/

Ou essa outra da NASA:

http://spaceplace.jpl.nasa.gov/en/kids/srtm_make1a.shtml

Primeiramente vamos confirmar a preocupação, nos EUA, em que os alunos aprendam a lidar com mapas topográficos. Preocupação essa que a meu ver é justa e que nós no Brasil, infelizmente, não temos. Em segundo lugar reparemos que o autor do site se preocupa com o conteúdo do mapa, ou seja, deixa para depois os complementos. Não toca em coordenadas (geográficas ou UTM, que também são geográficas…), escala, etc. A preocupação inicial, como se vê, é com as curvas de nível e seus significados. Eu proponho algo diferente. Sei que a forma mostrada acima é também muito boa, a partir da elevação (a colina feita com massinha) pode-se desenhar o restante. Prefiro, contudo, começar com os cursos de água. Eles são separados por divisores de água, serras, colinas, morros, montanhas e além disso já dão uma visão antecipada da paisagem: onde é alto, onde está o nível de base; esse deverá ser o rio principal e esses outros os afluentes e assim por diante. Obviamente o site acima está preocupado também em enriquecer e tornar concreta a explicação  do que são as curvas de nível , para que elas servem e outros aspectos relacionadas a esse importante conteúdo. Acho que para o bem de tantos objetivos podemos unir as duas coisas: a partir do traçado dos rios, moldar uma certa forma de terreno elevado (como a colina do site estadunidense acima) que se encaixe na nossa disposição dos rios. Tinha pensado antes numa paisagem com lago. Mas mudei de idéia (pois sempre quis fazer a maquete de um canyo e vou aproveitar a oportunidade).

Eis a rede hidrográfica que vai me guiar:

(coloquei essa miniatura para ver o conjunto)

Veja que é uma rede pobre, de uma área mais seca. Os grandes rios dos canyos dos desertos ou subdesertos, claro, têm poucos afluentes, provavelmente tenho que tirar fora alguns desenhados acima. Estou pensando no rei dos canyons, obviamente no Grand Canyon: garganta profunda; grande rio no fundo da garganta, ravinas e sulcos nas encostas (resultado da erosão causada por episódicas enxurradas e  torrentes) e não ribeirões perenes.

se minhas artes permitissem, gostaria que parecesse com ele!

Apesar de tudo, deixo os córregos, por enquanto, nesse rascunho. Eles me guiarão no desenho das curvas de nível.

Tenho que escolher (posso até deixar para o final) a altitude da primeira curva de nível, que deverá estar junto ao grande rio, que já tem até nome, no fundo da garganta. Pretendo variar dos 800 metros no fundo da garganta até aproximadamente 1000 metros.

(outra miniatura)

O segredo como se pode ver é ir mantendo um certo paralelismo entre as curvas de nível. Obviamente, quando à curva vai “atravessar” um rio ou córrego ela flexiona à montante, uma vez que a curva de nível , por definição, deve manter a mesma altitude e o rio está cavando o solo.

Os princípios básicos têm sempre que serem seguidos: não cruzar curvas de nível e evitar que no desenho uma curva toque na outra (muito embora em mapas de áreas muito íngremes, que deveria se a nossa, isso fica difícil).

Agora vou terminar, imaginando as áreas mais elevadas, como n0 Grand Canyon, algumas bem planas, outras nem tanto. Depois vou apagar os cursos d’água menores.

Vejam que escolhi variar as curvas de 20 em 20 metros.

Agora que temos um mapa topográfico próprio e todo nosso, criemos tarefas para aproveitá-lo: uma tarefa possível é entregar o mapa aos alunos e pedir para que eles descrevam a paisagem mapeada; passar para um mapa físico (colorindo com as cores convencionais -verde, amarelo, laranja, marrom e criando legenda) como já demonstrado. Traçar cortes e desenhar os respectivos perfis topográficos; calcular declividades.

Vou agora apagar os córregos:

O nosso mapa topográfico está pronto. Falta, contudo, muitos elementos importantes de um mapa: título, legenda e outros componentes. Vamos colocar agora uma escala, e quem sabe coordenadas geográficas e, se a paciência permitir, coordenadas UTM. O problema é que uma coisa tem que jogar com outra, e ambas com a escala, o que  complica e enriquece o trabalho.

Sabemos que um grau de latitude corresponde a aproximadamente 111km. O que é bastante útil saber. Assim se na base sul do mapa coloco, por exemplo 20º sul (como minha Belo Horizonte) e no limite  norte 19° sul, fica implicado que entre ambos os paralelos há 111km, logo, estou partindo para a definição da escala, ou seja, tenho que imprimir meu mapa no papel e com exatidão medir em cm a distância entre esses dois paralelos e fazer a regra de três com os tais 111km…

Medindo o meu, achei 20,5 cm. Assim monto a regra de três: se 20,5 cm desenharam 111km,  um centímetro desenhará X quilômetros:

20,5 cm———— 111km

1,0 cm————–  X km

X= 111 : 20,5

X= 5,4 km

Logo, escala do nosso mapa teria que ser   1: 540 000

O resultado não me agradou, pois a escala é muito pequena, sem detalhamento, bate com um mapa de um estado do Brasil, o que não corresponde aos detalhes do meu mapinha que obrigatoriamente deveria ter uma escala bem maior, bem mais próximo à realidade, por exemplo 1:50 000 (como se vê, uma escala quase dez vezes maior que a estabelecida pelos cálculos acima).

Esse infrutífero trabalho anterior nos mostra que devemos partir do estabelecimento da escala para depois estabelecer os paralelos e os meridianos (que em mapas de grande escala ,como o nosso, variam nos minutos e nos segundos). Vou deixar essas reflexões por um tempo e depois apagá-las para fazermos desse jeito.

Para que desenhar os mapas topográficos, se há tantos por aí?

É uma boa questão. Realmente, olhe o que GOOGLE mapas pode oferecer:

O mapa acima é do Cerro Palpana, um vulcão no leste do Chile e foi obtido no ítem “outros – terreno” no google mapas.

Realmente com tantos recursos à disposição, desanima-se com o trabalho de criar um mapa todo seu, porém, eu vejo ainda as vantagens: você destaca o que quiser para seu aluno, algo que já estudou por exemplo, já que a paisagem é sua; você pode ser o mais didático possível, escolhendo equidistância, escalas, coordenadas e, principalmente, para conseguir desenhar você tem que se aprofundar no assunto e enfrentar desafio, do tipo: como desenhar cachoeiras, como ficaria uma depressão, uma vertente côncava, um front de cuesta e uma voçoroca e assim por diante. Além disso tudo, é um DESAFIO interessante. Os alunos podem ser incentivados por exemplo criando uma ilha de pirata toda deles, com enseadas, cavernas, sumidouros… Olha o tamanho do desafio!

Enfim, tendo desenhado o mapa posso fazer uma maquete da paisagem que está nele representado (em seguida coloco os outros elementos citados). Veja como está ficando (compare com o mapa):

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Como ficou. Reparem que mudei o relevo do extremo norte da paisagem para deixar os dois lados (norte e sul) do canyon na mesma altitude, como costuma acontecer. Eliminei o que parecia uma pequena serra no norte.

     

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Uma foto que eu achei que ficou bonita!

Outros componentes do mapa. Obviamente título, data, fonte isso tudo, apesar de muito importante, em se tratando de um mapa de criação própria invento como quiser: “Canyon do Eugênio” é feio mas fica esse mesmo. O norte é o convencional. Coloco norte magnético só para aguçar a curiosidade dos alunos. A data  tanto faz, a não ser que se trata de aluno de terceiro grau e se pretende calcular declinação magnética para anos passados ou futuros.

Coordenadas geográficas.

Vimos acima que é aconselhável escolhermos a escala antes de escolhermos as coordenadas para o nosso mapa. Vou escolher uma escala bem fácil para o trabalho com alunos noviços. A escala 1:10 000.

Um por dez mil é uma escala interessante porque nela cada centímetro no mapa vale 1oo metros no espaço real.

Dada a escala podemos pedir aos alunos  para calcular distância entre nascentes, entre os pontos cotados ou outros que queiramos desenhar no mapa. Se o objetivo é trabalhar curva de nível e escala, prossiga por outros caminhos e dispense as coordenadas.

Vamos começar as coordenadas pela latitude.

Escolho um hemisfério. Fico com o hemisfério sul. Com isso sei que o paralelo de menor latitude é o paralelo limite norte e o paralelo de maior latitude é o paralelo limite sul, pois, no hemisfério sul as latitudes crescem para o sul…

Escolho essa latitude menor. Qualquer uma serve, desde que não seja uma latitude muito baixa  (de muitas chuvas, que destruiriam nosso canyon) nem muito altas (pois o gelo tenderia a preenchê-lo). Escolho os 20° e já expliquei minha preferência. Sei que esse é o valor do paralelo limite norte.

Vamos calcular a latitude do paralelo limite sul.

Sabemos que no mapa há 20,5 cm entre os dois paralelos limites.

Se 1cm no mapa desenha 100 metros, 20,5 cm desenham X metros. É a nossa regra de três.

1cm——————100m

20,5 cm———— X metros

X= 2050 metros ou 2,05 km

Ou seja, entre os dois paralelos limites há um pouco mais que 2 km.

Sabemos que 1º é igual a 60′.

Sabemos ainda que cada 60′ de latitude equivale a 111 km de distância. Logo, se 111km corresponde a 60′ de latitude, 2,05 km correspondem a X’

111km———————60′

20,05km—————- X’

X=1203 : 111

X= 10,84′

Se o meu paralelo limite norte é o de 20° sul, o meu  paralelo limite sul e 20°+10,84′, ou seja, 20°1o”50″ sul (passei os 0,84′ para segundos multiplicando por 60, já que cada minuto corresponde a 60″…) .Estão aí os meus paralelos.


Com os meridianos faço coisa semelhante. Sabemos, contudo, que cada grau de longitude não vale 111km pois os meridianos não mantém o paralelismo, pelo contrário, se encontram todos nos pólos. Junto ao equador um grau de longitude vale os 111km, mas nos próximo aos pólos esse valor é próximo dos 0 km… Assim, para não fundir a cabeça dos alunos podemos recorrer às tabelas que existem nos livros de cartografia ou manter os 111 km e dando uma longitude falseada. Uma maneira de fugir a esse problema é sempre dar as latitudes próximas do Equador, pois, neles os 111km também valem para as longitude…

Dito isso escolho um hemisfério para minha longitude. Oeste para mim.

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Outro modo curioso de entrar no “mundo das curvas de nível”:

                

Olha  como é ensinado em uma escola francesa e mostrado em um site francês: acumulam neve, fazem as curvas com linhas de lã de cores diferentes e esperam a neve derreter… Pelas fotos deu certo.

O site é: http://saint-joseph-herve.skynetblogs.be/archive/2010/01/16/initiation-aux-courbes-de-niveau.html

7 Respostas to “Faça um mapa topográfico”

  1. Wagner said

    Olá, sou professor de escola pública, trabalho com um 4°ano e fiquei muito interessado nesse modo prático de trabalhar a geografia com os alunos. Estão de parabéns.
    Estou trabalhando com maquetes com meus alunos estudando o nosso município e lendo o material postado aqui fiquei muito interessado em fazer uma maquete do Cerro de Palomas que é um dos cartões postais da minha cidade com os meus alunos. Como não sou bom com desenhos segui a dica de usar o google maps, só que me aparece apenas uma altura relativa a 200 metros.
    Tirei um print screen e salvei no computador mas não estou conseguindo fazer as lâminas no isopor já que só tem uma medida. Gostaria muito de uma ajuda para realizar a atividade com meus alunos.

    • mileumlivros said

      Olá Wagner. Saudações
      Primeiro estou tentando achar o mapa topográfico que cobre Santana do Livramento (você sabe se o IBGE mapeou essa área e em qual escala e com qual título?).Se acharmos, tudo fica mais fácil. Já achei um tanto de Santanas, mas não de Santana do Livramento (veja aqui por exemplo: http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_mapas.php?this_pag=8&palavra_chave= ) , por essa razão pergunto por outro nome pelo qual o IBGE mapearia sua região aí. Até agora não achei no site deles. Vou continuar tentando. Outra coisa: Cerro do Registro ou de Palomas é a mesma “colina”? A altitude máxima dele é por volta dos 290 metros?). Já estou até achando que procuro no lugar errado. Você não me falou o município e eu achei que é Santana do Livramento (RS). É mesmo ou eu estou procurando errado?
      Estou de volta:
      Ainda não achei o mapa do IBGE correspondente, mas se não achar, considero que o google é mesmo a solução. Veja no email que mandei para você (diga se o recebeu ou não) se essa solução satisfaz: fiz como você disse e achei o Cerro em questão (aliás muito bem explicado por você: segui a estrada 293 e achei…). Usando o print screen selecionei fragmentos do mapa para montar um mosáico. Depois do mosaíco montado é copiar as curvas de nível e depois fazer a maquete. Dizendo assim parece fácil, mas vai dar um trabalhão.
      São coordenadas geográficas mesmo. O sinal de menos na latitude corresponde ao hemisfério sul e o sinal de menos na longitude corresponde ao hemisfério oeste. Eles forneceram as coordenadas com os decimais do grau e não com os minutos e segundos.
      Volto depois.
      Um abraço.

      • Wagner said

        Olá,
        recebi sim o seu e-mail.
        O primeiro print que está no anexo é o mesmo que eu tenho, apenas com um zoom maior que aquele que você utilizou.
        Gostei muito da sugestão. Já estou ansioso para começar. Você já deve ter visto alguma foto do local, mas mesmo assim vou te mandar umas.
        Um abraço.

  2. Wagner said

    Está certo sim, é Santana do Livramento, esqueci de citar a cidade…
    O cerro do registro é outro ponto da cidade.
    Pelo google mapas para achar da pra fazer da seguinte maneira: Ache a cidade no mapa e depois terá que acompanhar a BR 293 em direção a nordeste, direção para acesso as cidades de Rosário do Sul e de Dom Pedrito (foi assim que consegui achar). Se chegar em um ponte e não tiver encontrado terá que voltar um pouco, pois ele fica antes da ponte.
    No mapa que eu consegui fazer no google mapas apareceu o seguinte -30.824984,-55.349303, não sei se isso seria uma coordenada, já que eu tentei colocar um marcador no local para ficar fácil o acesso.

  3. Adryane Mara said

    Como apresentar as caracteristicas e a partir da interpretação das curvas de nível no mapa do Rio de Janeiro??????????????????????????????????

  4. Muito bons os ensinamentos. Trabalhamos na “Ciência de Pés Descalços” (http:cienciadepesdescalcos.blogspot.com) com jornal amassado, sobre o qual derramamos gesso para fazer os morros. Com desenhos de “hidrocor” sobre o gesso marcam as linhas. Uma foto tirada do alto marca as linhas, Edgard Bessa – Itaipava, Petrópolis, RJ

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